A constituição do processo político-territorial na América Latina é formada por convergências e dissidências desde o processo de formação colonial. Inicialmente, ao abordar a formação do território hispano-americano é possível vislumbrar já em sua definição à época do século XVII uma identificação cultural e política com as estruturas coloniais como os cabildos tidos como centro político das regiões latinas, tais como, a Cidade do México, antiga Tenochtitlán Azteca, que operou como o cabildo principal do Vice-Reino da Nova Espanha; Bogotá, cabildo que funcionou como a capital do Vice-Reino de Nova Granada; e Buenos Aires, capital do vice-reino do Rio Prata.
No entanto, em virtude do isolamento das regiões, da extensão territorial da colônia espanhola na América, assim como a criação de diversos grupos políticos, de peculiaridades econômicas e culturais, o sonho de Simon Bolívar de possuir uma América Latina unida, não poderia vingar. Especialmente a ver as economias que passavam por um processo de restauração pós-independência.
De fato, a comunicação interprovincial era extremamente penosa, e mesmo o comércio, em regra, era realizado diretamente com a Espanha. Vale ressaltar ainda que a desfragmentação territorial da América Espanhola, se deu pela falta de uma unidade política que pôde ser observada no Brasil, o qual estabeleceu a monarquia como regime de governo.
Na América Latina Espanhola, ainda houve um esforço por parte do México em tentar implantar o regime monárquico na figura do Imperador Maximiliano de Habsburgo-Lorena entre 1864 e 1867, o que não logrou êxito. Houve mesmo uma pretensão de convidar a Princesa Carlota Joaquina, esposa de D. João VI, e irmã do regente espanhol Fernando VII, através de um partido carlotista em Buenos Aires para trilhar o caminho de sua independência e a implantação do regime de monarquia. No entanto sua personalidade irascível, a política expansionista de D. João, e a diplomacia britânica – que não desejava provocar um impasse com o restaurado Fernando VII – diluiram esta pretensão.
O plasmagem política da América Latina Espanhola constituiu-se inevitavelmente na desfragmentação, pelos motivos expostos, viabilizando o caudilhismo. Com o isolamento dos territórios e a falta de organização militar pré-constituída, as províncias espanholas formaram milícias para combater os ibéricos. A formação de vários focos de poder dos criolos – aristocratas filhos de ibéricos nascidos na colônia – e grupos armados, ex-milicianos, aquilataram o processo do caudilhismo.
Com relação à política de integração territorial brasileira, a realidade figura-se bem distinta. No Brasil já havia um tradicionalismo implantado, assim como um aparato burocrático estigmatizado, principalmente com a chegada da família real em 1808. O príncipe regente D. João trouxe toda a estrutura militar transplantando a instituição portuguesa na colônia. Instalou a Academia Militar no Distrito Federal – Rio de Janeiro – por carta régia de 04 de dezembro de 1810. Após o grito do Ipiranga de D. Pedro o Brasil já possuía um efetivo militar brasileiro, além dos militares portugueses que aderiram à causa de independência.
No mais, havia na classe aristocrática o desejo da manutenção da ordem, inobstante o processo de independência. Os brasileiros aristocratas temiam que com o processo de independência advido dos liberais republicanos, se implantasse a abolição da escravidão, e os aristocratas portugueses além deste fator, ainda contavam com o elemento nacional hostil que poderia representar o confisco de suas terras, razão pela qual prestaram apoio à causa da independência aderindo ao plano econômico dos irmãos Andrada para a contratação de efetivos estrangeiros na causa emancipacionista.
O própio processo de independência no Brasil marcou um evento até então inédito tendo em conta a corporificação e a representividade a que se materializou com as aclamações do Imperador Pedro I. Pela primeira vez se ouvia falar nos cantos mais remotos das províncias a efetivação de um espírito nacional constituído. A posição apriorística efetivamente centralizadora do Imperador assessorado pelo paulista José Bonifácio, ofereceu as cordas que amarrariam o processo inicial de sedimentação nacional.
Ao vislumbrar o mapa da américa latina atualmente, é possível enxergar com mais propriedade, o porquê da constituição unitária brasileira e a desfragmentação de todo o território hispano americano. No entanto, é possível ainda lançar um olhar favorável à integração econômica já tão pretendida outrora, mas não lograda em função das adversidades políticas e geográficas que hoje apresentam-se mais favoráveis à sua consecução.
Por fim, vale ressaltar à importância da identidade cultural brasileira como um vetor de corporificação nacional. As conclamações literárias, as reivindicações políticas, os trancos e solavancos, as crises e superações econômicas, a valorição do elemento autóctone, as diversas clivagens desse Brasil de cores, raças, credos e regionalismos que acabou por redefinir o processo endógeno da integração territorial e da formação política brasileira.